«Sessenta anos depois da primeira volta à Terra – a um pouco mais de trezentos quilómetros “acima” da superfície terrestre – o feito histórico continua a ser evocado como o resultado do empenho de uma nação em promover a investigação espacial e, de algum modo, provar convicções anteriormente manifestadas por físicos e matemáticos», destaca o professor Máximo Ferreira, coordenador científico do Centro Ciência Viva de Constância, num artigo que escreveu para integrar as comemorações promovidas pela nossa associação.
Máximo Ferreira participou, em 2016, no colóquio que a Associação Iúri Gagárin promoveu na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (como aqui referimos).
Em 1988, no número de Março-Abril da nossa revista Paz e Amizade, também foi publicado um artigo da sua autoria, intitulado «A humanidade não ficará eternamente presa à Terra», onde salientava a importância de Konstantin Tsiolkovsky para os avanços na exploração pacífica do espaço, com destaque para o primeiro voo espacial pilotado.
A este propósito, sugerimos igualmente a leitura do artigo «O Cosmos e a Paz», de Eurico da Fonseca, comentador científico, publicado na revista Paz e Amizade n.º 28, em 1982, referindo «a primeira vez que um satélite permitiu assinalar o local de um acidente de aviação».
Iuri Gagarin
Por Máximo Ferreira
Coordenador científico do Centro Ciência Viva de Constância
Sessenta anos depois da primeira volta à Terra – a um pouco mais de trezentos quilómetros “acima” da superfície terrestre – o feito histórico continua a ser evocado como o resultado do empenho de uma nação em promover a investigação espacial e, de algum modo, provar convicções anteriormente manifestadas por físicos e matemáticos.
No entanto, os contributos que tais propósitos proporcionaram – em quase todo o mundo – ao desenvolvimento das ciências, técnicas e tecnologias, e as respetivas potencialidades para a paz e o bem-estar dos povos, fizeram da data de 12 de abril um dos mais notáveis momentos para o futuro da humanidade.
Se é certo que nas motivações da então União Soviética se incluía a disputa política com os Estados Unidos, não é menos verdade que o acontecimento serviu, também, para mostrar ao mundo exemplos de como a juventude se pode formar – pelo trabalho e pela solidariedade – com motivações de superação contínua, originando, assim, verdadeiros símbolos universais.
Iuri Gagarin, filho de família modesta, descrito pelos seus professores como “inteligente, trabalhador, simpático e brincalhão”, realizou o percurso da formação técnica de operário metalúrgico agarrado ao sonho de ser piloto. O espaço tinha-se tornado um palco que muitos jovens desejavam alcançar, depois dos êxitos das duas potências mundiais com os lançamentos dos Sputniks, pela URSS, em 1957, e a “resposta” dos EUA com os Explorer, em 1958!
A 12 de abril de 1961, de um grupo de vinte jovens talentos, emerge o “pequeno” (1,57m de altura), com personalidade e constituição física adequadas à missão de se tornar o primeiro ser humano a viajar no espaço e a poder proferir a frase que perdurará: “… vi quão lindo o nosso planeta é. Povo, vamos preservar e aumentar essa beleza, não destruí-la!”.
Apesar da polarização que duas diferentes visões para o “funcionamento” do mundo estabeleceram em todo o nosso planeta, a evocação da investigação espacial une os povos (quase) sem exceção, no reconhecimento da sua importância e comemora, em cada ano, o seu símbolo inicial (Iuri Gagarin), com iniciativas que vão juntando muitos(as) seguidores(as) na aventura espacial, agora oriundos(as) de países diversos.
Depois de, em abril de 1962, a União Soviética ter declarado a data de 12 de abril como “Dia do Cosmonauta”, a Assembleia Geral das Nações Unidas de abril de 2011 – nas comemorações do 50.º aniversário da viagem de Gagarin - declarou a data como “Dia Internacional dos Voos Espaciais Tripulados”. Na mesma ocasião foi apresentado pela primeira vez o filme First Orbit, que reconstitui o feito de Gagarin e inclui imagens da Terra, obtidas pela tripulação (russa, americana e italiana) da Estação Espacial Internacional (ISS) - no mesmo ponto e hora em que Gagarin a viu.
O Centro Ciência Viva de Constância possui um avião a jato (com algumas semelhanças com os MiGs que Gagarin tripulou antes e depois de se tornar “herói do espaço”) integrado numa exposição que inclui referências às exigências físicas de astronautas/cosmonautas e a aspetos da preparação a que são sujeitos(as).
Os visitantes são mesmo convidados a experimentar um “giroscópio humano” que dá ideia de treinos com vista à orientação no interior de naves sem pontos de referência no espaço.
- Obter ficheiro pdf do artigo de Máximo Ferreira