Por Vladimir Maiakovski
Revista Paz e Amizade, n.º 5, ano II/77, pp. 18-19
Gritam ao poeta:
"Gostaria de te ver junto dum torno.
Mas quê?! Versos?
Futilidades!
Por certo trabalhar não é contigo".
Talvez,
ninguém como nós
seja tão dado
ao trabalho.
Eu também sou uma fábrica.
E se não tenho chaminé,
talvez
sem chaminé isso me seja mais difícil.
Sim, eu sei:
Não gostais de frases ocas.
Se cortais o sobreiro, é para trabalhar a cortiça.
E nós?
Não seremos por ventura marceneiros
a afeiçoar o sobro dos rostos humanos?
É evidente:
Pescar é coisa respeitável.
Puxai a rede,
pode ser que nela venha o esturjão!
Mas o trabalho dos poetas é coisa ainda mais respeitável:
pescar homens vivos e não peixes.
Trabalho imenso é o fogo dos fornos
a temperar o aço sibilante.
Mas quem é que ousa
acusar-nos de ociosos?
Somos nós que polimos os cérebros com a lima da língua.
Quem está acima - o poeta
ou o técnico,
que
aos outros dá proveito material?
Estão ambos.
Os corações também são motores.
A alma, uma força motriz engenhosa.
Somos ambos iguais.
Camaradas da massa operária.
Proletários do corpo e do espírito.
Só unidos
poderemos embelezar o universo
e avançar em ritmo de marcha.
Com um dique
Isolar-nas-emas da tormenta das palavras.
Mãos à obra!
O trabalho é vivo e novo,
E os oradores vazios
que sejam lançados ao moinho!
E oferecidos aos moleiros!
Que a água dos seus discursos
laça girar as mós.
Tradução de J. Seabra-Dinis