20220409sessaodebateA necessidade de pôr termo a uma guerra que não devia ter começado e a exigência de informação diversificada, para melhor chegar à verdade, foram ideias que sobressaíram na sessão-debate sobre «A situação na Ucrânia e a urgência da paz», que teve lugar no sábado, 9 de Abril, durante a tarde, na livraria no andar da sede da Associação Iúri Gagárin.

Mais de três dezenas de associados e amigos trocaram ideias sobre a forma como é mostrada e vivida esta «situação extremamente dolorosa», como começou por assinalar Lurdes Gonçalves, que dirigiu a sessão. Tal como para outros portugueses que receberam bolsas de estudo e se formaram em estabelecimentos de ensino superior da URSS, tem amigos na Ucrânia e na Rússia, o que suscita dor e tristeza, perante os efeitos da guerra. Mas, além da morte e destruição, sofre-se ainda os efeitos da «guerra da informação», muito violenta.

A Associação Iúri Gagárin mantém nos seus objectivos a ligação a todos os povos dos países que constituíam a URSS, salientou Levy Baptista. O presidente do Conselho Directivo da associação reiterou que, para todo o colectivo, a actual situação é muito dolorosa e muito difícil, sendo necessário conversar e informarmo-nos uns aos outros, para destrinçar trigo e joio na avalanche de informação, ou desinformação, proveniente de uma banda só.

Haverá coisas que, só daqui a uns anos se saberá como se passaram, mas todos estamos a ser envolvidos nesta guerra distante, por via da informação.

Levy Baptista recordou como, em Janeiro, a RTP e Cândida Pinto contactaram a associação, inicialmente para um frente-a-frente com um ucraniano, conhecido pelas provocações que, com a cobertura da Embaixada da Ucrânia, fez em 2019 na Festa da Vitória e da Paz.

Posteriormente, foi feita uma entrevista, durante quase uma hora, na nossa sede e no exterior, mas na peça publicada foram usadas apenas duas ou três frases, fazendo da Associação Iúri Gagárin um «ramo de salsa» para uma conversa extensa com o tal personagem.

Para o presidente do Conselho Directivo, o actual conflito resulta do «sismo» que constituiu o fim da URSS, admitindo que possam ainda surgir outras «réplicas».
Em respostas posteriores a uma ou outra interpelação, diria ainda que «estamos todos solidários com as vítimas da guerra», sendo necessário «que este mundo tenha paz». Interrogaria, a propósito, que consequências terá esta situação para os contornos futuros da cena internacional.

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Contributos valiosos

Os presentes foram convidados a usar da palavra. No final de quase duas horas e meia de sessão, intervieram 15 pessoas, prestando contributos valiosos e opiniões pertinentes, de que deixamos alguns registos.

O coronel Baptista Alves, dirigente da Associação Conquistas da Revolução, declarou subscrever as intervenções públicas de alguns militares e os elogios que recebem por porem as coisas a claro. Citou a Constituição, para afirmar que já não devia haver necessidade de guerras nos dias de hoje.

Também o conflito na Ucrânia poderia ter sido resolvido de forma pacífica, com o cumprimento dos acordos firmados.

Para o coronel na reserva, há quem mostre interesse em que se generalize o conflito. Uma vez que, numa situação como esta, a informação disponível não é totalmente fidedigna, é preciso aceder a fontes variadas, defendeu.

Recordou como a NATO, depois do fim da URSS, foi cercando a Rússia, considerando que a entrada da Ucrânia para a NATO seria para a Rússia inaceitável, tal arma apontada à cabeça.

Uma situação semelhante à de hoje, com os bombardeamentos da NATO sobre Belgrado e a «independência do Kosovo», foi recordada por Maximiano Gonçalves. Nessa altura, sempre terminava as suas crónicas «Dizer é preciso», na Antena 2 da RDP e no Diário de Notícias, afirmando a necessidade de parar os bombardeamentos.

Recordou que sucessivas provocações e rasgar de acordos, por parte do «ocidente», ocorreram ainda nos últimos anos antes do fim da URSS. Defendeu que é necessário manter uma atitude didáctica, transmitindo a outros aquilo que se sabe.

Bruno Simão reconheceu a necessidade de partilha de informação com pessoas que estão pela paz, e defendeu que o caminho para a paz não se faz com mais armas e que maiorias não sufragam justiça.

A necessidade de defender a paz na Ucrânia e no mundo - dando exemplos de alguns outros países - foi afirmada por Hugo Freire, que relatou como rebater o pensamento único provoca respostas como «és apoiante do Putin», tal como respondiam que era «apoiante do Sadam Hussein», quando tomava posição contra a guerra no Iraque.

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Para Pedro Lima, que estudou na URSS entre 1978 e 1989 e testemunhou o amor do povo soviético pela paz, a mentira é a maneira de prolongar a guerra. Criticando o convite ao presidente ucraniano para falar aos deputados portugueses, observou que ninguém do Donbass virá a falar para um parlamento de um país da NATO, pois o massacre desse povo foi realizado por milícias nazis, às ordens do governo de Kiev e com armas fornecidas pela NATO.

Com o tempo e com a participação de organismos e peritos internacionais, poderá apurar-se o que sucedeu, disse Vladimir Iaroshevski, da Casa Russa, frisando que, agora, é preciso chegar a acordos, o mais rapidamente possível e que permitam um cessar-fogo duradouro.

Quem vende as armas é quem, depois, vende as notícias - raciocínio partilhado por Lurdes Gonçalves, que lembrou como é antigo o preconceito relativamente ao povo eslavo e falou sobre a sua actividade, como médica voluntária, desde os anos 1990, tanto no apoio à primeira grande leva de imigrantes da ex-URSS, como agora, na ajuda a refugiados que estão a chegar da Ucrânia.

Domingos Mealha, jornalista, discorreu sobre guerra e mentiras, que são apuradas quando se conhece outros factos sobre histórias a que foi dado relevo. Uma mentira constante acaba por descredibilizar a comunicação social e até banaliza o horror e o recurso à guerra.

O membro do Conselho Directivo da associação considerou necessário manter e prosseguir o esforço de esclarecimento e de oposição à guerra, indicando alguns exemplos positivos, como o de José Goulão.

Perante as diversas narrativas, deve-se ter cuidado ao escolher o que se diz, alertou Ricardo Simões, admitindo que até poderá ser melhor não falar, num contexto em que agências de comunicação tratam de cada pormenor que nos é mostrado.

Por tentar ler as mais variadas fontes, Filipe Francisco admitiu que está «a dar em maluco», perante tantas e tão claras contradições. Quem é pela paz fornece mais armas? Tiram um canal televisivo que é pago e dizem que são sanções, não é censura?

 

Contra a guerra

No final da sessão-debate, Lurdes Gonçalves sublinhou que os presentes foram unânimes em manifestar-se contra a guerra, que não tem nexo. Domingos Mealha deu conta da intenção do Conselho Directivo de promover mais iniciativas.

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